10 outubro 2011

Powerpoint: quem te viu e quem te vê

"Não sei se alguém disse a Alvaro Santos Pereira que um grupo de suíços lançou há poucos meses um Partido Anti-PowerPoint. Mas os seus assessores deviam estudar o assunto. Basicamente, o PowerPoint transformou-se na forma mais elegante de dizer coisas vazias ou sem sentido e de aborrecer audiências imensas. Mais importante, foi fazendo com que os "apresentadores" deixassem de se esforçar para explicar e convencer quem os ouve. Quem tem um PowerPoint acha que tem tudo. Mas muitas vezes não tem nada.

Foi isto que aconteceu ontem a Santos Pereira. Chegou ao Parlamento com um PowerPoint com poucas novidades e que pura e simplesmente não respondia à pergunta que mais portugueses fazem e que os governantes repetem em surdina: e a economia?(...)"

Ricardo Costa

Expresso, 8 Out 2011

08 outubro 2011

A retórica da República e o mau discurso

Pedro Bidarra (*), no "Dinheiro Vivo" (JN) de hoje, critica a pobreza persuasiva dos discursos dos nossos actuais políticos (incluindo a do mais recente discurso presidencial):

"

Exmo. Sr. Presidente da Repú

blica, E

xmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, minhas senhoras e meus senhores:

Neste passado dia 5 de Outubro os discursos da nossa classe política, seguindo o costume da terra, foram todos muito graves, muito chatos e muito pesados; foram todos muito maus, como é costume.

É doloroso para mim, que sou da escrita e da comuni­cação, ouvir esta velha e datada retórica republicana, sem emoção nem nobreza, sem modernidade nem futu­ro e que narra apenas a desgraça do quotidiano.

É normal dizer-se que não se fazem discursos como antes, que já não há Kennedy nem Luther King nem Churchill. Mas esse não é o problema. O problema é que cá na terra ainda se fazem discursos como antes. A oratória, que não é arte estática e evolui com os costumes e os media, tem permanecido, por cá, inalterada a ponto de políticos novos, como o António José Seguro, soa­rem, quando discursam, mais velhos do que os velhos, como se tivessem frequentado uma escola de pose republicana. A retórica dos nossos políticos é velha e soa a velha. Os seus discursos, com raríssimas excepções, são a banda sonora do fim de um velho regime, moribundo num atasco de dívidas.

Não admira, portanto, que todas as velhas figuras e responsáveis deste regime, desde o velho Fazenda ao velho Soares, passando pelos novos velhos, tenham aplaudido o discurso do Presidente. É o tom do regime que eles aplaudem, o desfilar de argumentos que agradam a gregos e a troianos, a repetição de la palacianas evidências, entregues num pathos grave, para dar peso à men­sagem. E qual foi ela? A narrativa, o logos do discurso?

Apenas um apanhado de tudo o que se diz e escreve nos media, um resumo das notícias e opiniões dos acto­res secundários desta tragédia que são os jornalistas e os opinadores profissionais: que gastamos o dinheiro que nos mandaram e mais o que pedimos emprestado, que vivíamos acima das nossas possibilidades, que agora acabou, que vai voltar a pobreza que era onde estávamos quando a democracia começou.

Como se ainda não tivesse sido dito, como se a notícia da desgraça só fosse oficial se saída da boca de Sua Excelência o PR. Mas já foi dito. E mesmo que tenha de ser dito outra e outra vez, o PR deve dizê-lo diferente.

Não precisa estar escrito na Constituição que um dos poderes presidenciais é o de mobilizar e convocar a esperança. Isso é algo que um líder faz assim consiga inspirar, pela palavra, quem o ouve. Um discurso, quando é bem escrito, é uma arma eficaz. O seu poder, que é o poder da arte, é imenso, pois é capaz de tocar a razão e o coração e de mobilizar vontades para a acção. O PR podia ter usado o poder da oratória para o bem em vez de para o tédio. Para a esperança em vez de para o medo.

Discursos houve que ajudaram a derrubar tiranos, a mudar sistemas, a corrigir injustiças, mas este, o que oiço diariamente, nada faz para combater o desespero nem para convocar a coragem necessária para enfrentar a besta da pobreza que se aproxima. Este, o que oiço diariamente, não é escrito por pessoas para pessoas, é escrito por polítcos para políticos. Políticos paternalistas e narcisos a olhar para si e para as suas carreiras, e com distância para o povo.

A oratória pode ser usada para o bem e para o mal. O desespero e o medo em que começamos a viver é propício à oratória demagógica e é pasto para o mal. E o mau discurso do regime, sem emoção, nem esperança, não ajuda."

(*) Chief Creative Officer e vice-presidente da BBDO

in www.dinheirovivo.pt

05 outubro 2011

O berço histórico-democrático da retórica

"Os atenienses reunidos na colina do Pnyx representam o ideal daquilo que hoje chamamos democracia directa para a distinguir da representativa, e que para os gregos era apenas "a democracia" (…). As reuniões no Pnyx não eram amáveis mesmo para os poderosos, que sabiam que não tinham nenhuma garantia de ver as suas propostas aprovadas nem de escapar às flutuações de opinião. Como não havia cargos que não fossem ali escolhidos e como podiam ser revogados em qualquer altura, mesmo os generais vitoriosos, talvez os mais influentes personagens no mundo grego, tinham que se esforçar para convencer os seus concidadãos (*) de que era necessário fazer uma nova expedição militar, declarar guerra ou fazer a paz, e no caso de guerra, que recursos estavam disponíveis."

Pacheco Pereira, Público, 24.09.2011

(*) O bold é meu.

Ver artigo completo aqui

01 outubro 2011

Retórica para Economistas

Da importância da análise retórica "para entender como os economistas fazem a sua ciência":

23 setembro 2011

O futebol na TV e a defesa do essencial

Na linguagem do tempo devo confessar que sou fã dos teletextos com que João Lopes semanalmente nos brinda no "Notícias TV" (suplemento do JN). No de hoje destaco muito especialmente esta sua crítica a um certo tipo de comentadores do futebol que nos entra pelo ecrã:

"1. Celebrar o silêncio será um delírio poético? Talvez… porque não? Digamos que, nem que seja por razões poéticas, vale a pena perguntar porque é que a maioria dos comentadores dos directos do futebol não conseguem parar (ao menos por um abençoado segundo!!!) para escutar os ambientes dos jogos? Às vezes, a dois, dão-se mesmo ao luxo de elaborar infinitas dissertações sobre estratégias e tácticas, como se não estivesse nada a acontecer no ecrã ... Pede-se apenas a defesa do essencial: o prazer de olhar e escutar. O nosso, pelo menos."

Não tenho o conhecido e muito requintado hábito de Artur Jorge, ex-treinador do FCP, de desligar o som da TV e ficar a observar as peripécias do jogo, escutando apenas música clássica. Mas nem oito nem oitenta. O comentador do direto do futebol nem precisa de nos dizer o que já estamos a ver com os nossos próprios olhos, nem tem nada que nos contar a vida de cada jogador desde pequenino. Dele se espera informação, esclarecimento, enfim, uma chamada de atenção para este ou para aquele momento, mas não um relato propriamente dito. Espera-se, sobretudo, que não transforme o jogo inteiro numa interminável e aborrecida sucessão de pormenores. Haja retórica. Ao menos, medida e bom senso. Não é pedir muito.

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10 setembro 2011

Cássio - o filósofo (*)

"É melhor falar dos nossos erros do que dos erros dos outros"

(*) Cássio, guarda-redes do Paços de Ferreira, em entrevista à Sport TV quando admitia os erros da sua equipa no jogo de hoje (em que se deixou derrotar pelo Sporting por 2-3, depois de ter estado a ganhar por 2-0).

01 setembro 2011

Prémio Nobel ao jantar

Hoje jantei na Casa Nanda, o afamado restaurante da Rua da Alegria e jantei muito bem. Mas se a comida estava como sempre, a companhia foi como nunca, pois não é todos os dias (ou noites) que se janta com um Prémio Nobel, neste caso, com o Arqt. Siza Vieira, ali mesmo à minha esquerda (na mesa ao lado). Que simplicidade a de este grande homem, um génio que quase pede desculpa pela notoriedade mundial que possui, pela importância que tem para todos nós. Gostei muito do casual encontro. Além do mais, porque ao escolher o mesmo restaurante tive a honra de partilhar um gosto seu. Não é nada de menos.

11 julho 2011

Ideologias e opções partidárias à parte

Eduardo Pitta, in Da Literatura

Questão pertinente e mais do que legítima, que chama a atenção para a seriedade da análise política. Como tomar partido não é ficar vesgo ao que se passa com o outro, há que reconhecer como bem fundada esta denúncia da indignação tardia.

Isto é que são burros

10 julho 2011

O diálogo e a televisão

O diálogo, como password para uma boa entrevista em televisão:

"(...) dialogar em televisão não é o mesmo que 'encurralar' o entrevistado. A densidade e o interesse de uma entrevista não nascem de uma qualquer histeria de tribunal popular, mas sim do gosto pela pluralidade interna dos temas tratados.

João Lopes, Notícias TV, JN, 09.07.2011

17 junho 2011

No copianço dos futuros Magistrados

Foi muito injusto aprovar todos com a nota mínima de 10. De certeza que uns terão copiado melhor do que outros.

30 maio 2011

As sondagens do Pedro Magalhães: nem veneração acrítica nem rejeição total

Comprei-o num dia e li-o no outro, de uma só vez. Muito acessível, mas sem conceder no rigor do que é essencial. A natureza metonímica das sondagens: "Tomar o todo pela parte"; a errância na matéria por parte do líder do "Partido Azul"; o erro amostral e a curva da distribuição normal (ou curva de Gauss); o cálculo da margem de erro ou intervalo de confiança; a incerteza que pode ser estimada e a suposta influência das sondagens na orientação do voto, são apenas alguns dos tópicos que mais despertaram a minha atenção. Mas o livro está recheado de ensinamentos e questões de grande oportunidade e interesse (*) que permitem melhor interpretar o que cada sondagem nos pode dizer. Significa isto que se o Pedro está de parabéns, fui eu que mais enriquecido fiquei.

(*) Também para a retórica

Entre Deus e o Diabo: o valor do mercado

"O mercado tem uma lógica que faz com que não se ocupe de valores. Tem por ideal a rentabilidade, a eficácia, o lucro. A sua motivação é a concorrência. Não há aí valores éticos. Este mundo, de alguma forma, cria o ideal do dinheiro, do sucesso e pode, de certa maneira, ser niilista, porque, quando se trata de dinheiro, quer sempre mais. Não há um fim. É o dinheiro pelo dinheiro. Ganhar por ganhar. E, se não ganhas, morres. A moral não existe nesse terreno.

Gilles Lipovetsky
Atual, 28 Maio 2011, Expresso

Nada de novo, é certo, mas nunca é demais recordar. O ideal da democracia só agradece.

Vozes da radio

No rádio do meu carro ouvi hoje Mário Soares dizer de José Sócrates que "é preciso pô-lo no sítio". O que é que ainda irei ouvir mais?

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29 maio 2011

Malta autoriza o divórcio

Autorizar o divórcio em 2011? Que arrojo. Ainda bem que que será só para casais já com 4 anos de separação no currículo. É que assim vai dar para tudo. Até para que ao fim de tanto tempo separados, já sintam saudades um do outro. E aí, já se sabe: matar as saudades pode ser o mesmo que matar o divórcio. Não está mal- pensado, não senhor.

Com o Fábio Coentrão correu bem melhor

Leio e não acredito: Siza Vieira, Souto Moura e Alcino Soutinho cancelam pequeno-almoço com Sócrates. O que terá passado pela cabeça de tão prestigiados arquitectos? Que iriam falar de arquitectura em tempo de campanha eleitoral? Valha-me Deus.

24 maio 2011

Tópicos da retórica socrática


"O que o país precisa é de um Governo com uma liderança forte e preparada. O país dispensa as aventuras e os radicalismos ideológicos" ( * )
José Sócrates
(Na TV com Passos Coelho)

Repare-se na eficaz fórmula retórica a que Sócrates aqui recorre:
O que o país precisa é de X. O país dispensa Y.
Esta fórmula é enquadrável na famosa teoria aristotélica dos lugares (topicos) e representa um verdadeiro "lugar de necessidade", já que pressupõe a superioridade do que é necessário (ou preciso) sobre o que se dispensa. Ora os lugares retóricos, segundo Perelman, representaram e continuam a representar importante papel como ponto de partida das argumentações. Sócrates sabe disso como poucos. Neste caso, o lugar retórico a que deitou mão é, digamos assim, uma forma vazia, na medida em que lhe permite substituir tanto a varíavel X como a variável Y por aquilo que mais lhe interessa dizer. Foi o que fez, com a mestria do costume: partindo da persuasiva ideia geral de que o que é preciso é melhor do que o que se dispensa (seja lá o que for), conota o seu principal adversário eleitoral com a pior das desqualificações políticas: a aventura e o radicalismo. Que a afirmação seja verdadeira ou falsa e a desqualificação justa ou injusta, isso agora não interessa nada. O debate já foi.

( * ) Legenda do implícito:
X - "um líder forte e preparado como eu"
Y - "as aventuras e o radicalismo do meu adversário"

22 maio 2011

Retórica da notícia ou opinião camuflada?

O Jornal de Notícias de ontem titulava em primeira página, tendo por fundo a fotografia dos dois principais candidatos:

Sócrates confiante Passos hesitante
E quando o leitor esperaria encontrar neste título um primeiro sinal de notícia sobre como decorreu o debate, viu-se antes confrontado com a veia psicológica do seu autor, que mais importante achou descrever os estados de alma dos dois intervenientes. Nem me vou pronunciar sobre o seu fundamento ou acerto. Não é isso que está em questão. Do ponto de vista jornalístico, o que está em questão é que a notícia foi rebate falso, pois as págs. 2 e 3 para que o título remetia, eram integralmente preenchidas com a opinião de diversos comentadores. Incluindo a dos dois jornalistas que assinaram a peça sem avançar com um único argumento que permita compreender a razão de ser do respectivo título. Não faltará, por isso, quem pense que, neste caso, mais do que dizer o que se passou, o jornal disse apenas o que queria dizer.

21 maio 2011

A manipulação vista de dentro

"Hoje, há vários canais a entrar em casa das pessoas, há jornais, há internet nos telemóveis, há mails nos telemóveis, há redes sociais. Hoje é impossível manipular as pessoas. Só se deixa manipular quem quer."

José Alberto Carvalho
(Notícias TV, 20 a 26 de Maio 2011)

Que o manipulado tem uma parte da responsabilidade na sua própria manipulação, está fora de causa. Mas que um homem de televisão deste gabarito e com tantos anos de tarimba, venha afirmar que é impossível manipular as pessoas e de que só se deixa manipular quem quer, é um claro sinal de que vê mal ao perto. Toca a atualizar essas lentes, sr. diretor de informação da TVI.

17 maio 2011

Intimidade digital


Querido blogue:
Cá estou, de novo. Nem sei como foi isto possível, mas o certo é que há mais de 6 meses (!) que não te oferecia uma só palavra. Outros caminhos, novas responsabilidades, enfim, exigências maiores para dias cada vez mais pequenos, explicam este grande intervalo. Mas nada explicaria uma desistência, porque como já te disse e redisse, não sei desistir e tu, querido blogue, pelos vistos, muito menos, a avaliar pela galhardia com que te aguentaste aqui, a pé firme, quedo e mudo mas sempre receptivo à curiosidade de quem passa e em ti se adentra. Quase sinto remorsos, por isso (ou, no mínimo, uma certa ingratidão), pela distância a que de ti me mantive, meses a fio. Perdoa-me. E até breve, sim?